História da Cadeia da Relação


A Cadeia da Relação do Porto foi criada em 27 de Julho de 1582. Inicialmente a funcionar no edifício da Câmara Municipal, na altura instalada na rua de S. Sebastião, a Cadeia da Relação deambulou durante cerca de 20 anos por vários espaços da cidade.
Em 1603, Filipe I (II de Espanha) ordenou a construção de um edifício para sede própria da Cadeia da Relação. No entanto, apenas em Julho de 1606 é que se iniciaram as obras de construção orientadas pelo corregedor Manuel Sequeira Novais. A construção demorou cerca de 3 anos e foi paga pelos degredos de África (condenados ao exílio que pagavam pela pena a cumprir em território português). Pela sua magnitude, durante a construção da Cadeia da Relação não se realizou mais nenhuma obra na cidade do Porto, por falta de verbas.
Em 1630, ocorre um incêndio neste edifício deixando-o bastante danificado. É ordenada a sua reedificação mas em Abril de 1752 o edifício ruiu completamente e a Cadeia da Relação volta a instalar-se no edifício da Câmara Municipal.
Sob os escombros do anterior, no reinado de D. José, iniciam-se as obras da nova sede da Cadeia da Relação em 1765 a mando de João de almeida e Mello, regedor das Justiças e governador das Armas do Porto, demorando 29 anos a estar concluído e só terminando já no reinado do regente D. João VI, em 1796.
O projecto é da autoria do engenheiro Eugénio dos Santos Carvalho, que participara na reconstrução da Lisboa pombalina, e a obra é orçada em 200 contos. O edifício passa a albergar o Tribunal da Relação e a sua cadeia, esta que se manteve em funcionamento até 1975, altura que os últimos presos foram transferidos para a nova prisão de Custóias.
Durante o período em que funcionou como cadeia chegou a albergar cerca de 500 reclusos, alguns deles notáveis referências da história portuguesa, que eram distribuídos pelo espaço consoante a sua posição social. A Cadeia da Relação estava organizada em “enxovias” (celas comuns) e em “quartos de malta” (quartos individuais). As enxovias serviam as populações mais baixas e eram designadas por nomes de santos: Santa Ana e Santo António para os homens, Santa Teresa para as mulheres, e Santa Rita para os menores. Nestas enxovias os detidos viviam amontoados em amplos salões de paredes de granito e chão de cimento. Havia ainda mais duas enxovias: a do Senhor de Matosinhos que abrigava a oficina-prisão e a de S. Vítor que era a cela dos castigos. Nos “quartos de malta”, reservados as classes mais altas pois pagava-se para lá ficar, existiam os salões de S.José e do Carmo. Havia igualmente na sala do Tribunal uma capela onde era proferida a missa para os presos, que a ouviam pelas grades das celas e que devido à lotação da cadeia num Domingo era para metade da população e no outro para a outra metade.
O edificado, localizado no Campo Mártires da Pátria, é um possante monumento de granito, de grande beleza arquitectónica, de forma triangular e duas entradas separadas, com as suas 103 janelas gradeadas.